Literatura do Folclore: O preguiçoso e o peixinho - conto

Certa vez, havia um sujeito muito pobre que tinha muitos filhos. O caçula era preguiçoso que só vendo, muito amarelo e barrigudo. Todos os dias, quando iam buscar água e lenha, o amarelo e seus irmãos passavam diante do palácio do rei.

Um dia, estando a maré cheia, o amarelo, em vez de acompanhar os irmãos, viu uns peixinhos dentro de uma poça no mangue. E se pôs a se esforçar, para pegar um deles. A filha do rei,  que estava na janela, pôs e a gritar na direção do amarelo:

- Ei, seu preguiçoso. Vá ajudar seus irmãos.

Afinal, o amarelo conseguiu pegar um peixinho, que começou a forcejar para escapar das mãos do amarelo. E, quando viu que não podia se escapar mesmo, o peixinho disse ao amarelo:

- Me solte, me solte, que eu lhe darei tudo o que você desejar. E, quando quiser qualquer coisa, basta dizer: Com os poderes de Deus e de meu peixinho, quero tal coisa. E, assim, você logo obterá o que quiser.

O amarelo, então, soltou o peixinho.

A princesa da janela continuava a caçoar dele, chamando-o de empapuçado, de barriga de areia, etc. O rapazinho ficou tão aborrecido com aquilo que disse só para ele: “Com os poderes de Deus e de meu peixinho, quero que você tenha um filho meu, sem saber como”.

E o amarelo foi andando bem devagarinho. Um pé hoje, outro amanhã.  Ia lá ele com o bucho enorme, de tanto comer barro, atrás de seus irmãos que, com certeza, já estava de volta.

Dali a poucos dias, a princesa começou a ficar pálida, magra, com dores aqui, dores ali… cada vez pior. Toca o rei a mandar chamar tudo quanto era médico do reinado. E todos só diziam ao rei que aquilo era doença nenhuma.

Afinal, quando chegou o tempo, a moça deu à luz um menino muito gordinho e bonitinho. O rei ficou furioso. Chegou até a falar em degolar a filha. Mas, pondo-a em confissão, para que ela dissesse quem tinha sido o homem que havia ido ao seu quarto, a moça só lhe respondeu que nenhum tinha ido ao seu quarto. E não houve força humana que a fizesse dizer outra coisa.

Vendo o rei que nada arrancaria da boca da filha, reuniu os conselheiros, a fim de que eles dissessem o que se deveria fazer, para saber quem era o pai do seu neto. Depois de muita discussão, os conselheiros resolveram que se deveria esperar que a criança começasse a gatinhar, para que se pudesse tirar uma prova.

Quando a criança começou a engatinhar, os conselheiros disseram ao rei que mandasse chamar todos os homens do reinado, a fim de que eles fossem à presença do menino, para saber de verdade quem era mesmo o pai da criança.

Aí, foi uma romaria de homem ao palácio, durante semanas e semanas, vindo de todas as partes do reinado, que era um Deus nos acuda. Primeiro, vieram os príncipes, depois os fidalgos, depois os remediados e, finalmente, os pobres - velhos, moços e meninotes - mas sem que a criancinha nem sequer se importasse com qualquer um deles.

Finalmente, faltava apenas o preguiçoso. Quando os criados do rei foi chamá-lo, o pai dela achou muita graça e disse-lhes:

- Ora, ora. Seria mesmo muito bonito se o papa-cinza fosse o pai do príncipe. É mais fácil as galinhas criarem dentes. Vocês não estão vendo logo que isso não pode ser?!…

- Não sabemos de nada. - responderam-lhe os criados. - É uma ordem de sua majestade. Portanto o amarelo tem que vir diante de sua majestade.

E, então, lá se foi o amarelo por ali fora, com a barriga em tempo de rebentar, e as pernas muito sujas de lama. Andava após os criados. Durante o caminho, o amarelo disse para si mesmo: “Com os favores de Deus e de meu peixinho, quero transformar-me num bonito moço bem bonito e bem vestido”.

Num instante, o amarelo se transformou. Quando os criados olharam para trás, ficaram muito admirados, pensando que o amarelo tivesse fugido, e que aquele ali era outro moço. Mas o amarelo lhes disse logo:

- Estão admirados? Pois eu sou o amarelo mesmo.

Ao chegarem ao palácio, havia muita gente na sala, onde se encontrava a criança. Já estavam todos os presentes prontos para rirem, às custas do preguiçoso. Ao vê-lo, o rei exclamou:

- Mas é esse homem que vocês disseram ser amarelo e sujo, quando eu o vejo tão bonito, corado e tão lorde assim?

- Vossa real majestade deve saber, responderam os criados, que ele saiu de casa com uma barrigona enorme e sujo, que dava muito nojo. Mas, quando vínhamos vindo pelo caminho e que olhamos para trás, para ver se ele nos estava acompanhando, ele estava desse jeito.

O rei mandou que o amarelo entrasse na sala, onde estava o menino. A criancinha achava-se lá no fundo do grande salão. Quando o preguiçoso apareceu na porta, a criança veio engatinhando depressa e chegou e se abraçou às pernas dele e se pôs de pé.

O rapaz, nesse momento, tomou-lhe nos braços. Foi uma admiração geral. O rei ficou apalermado, perguntando-lhe como ele tinha feito para entrar na camareira da princesa, sem que ninguém percebesse.

O moço, então, respondeu ao rei que jamais entrara no quarto da princesa. Mas o rei não acreditou naquilo, nem todos os que estavam ali. E, já muito zangado, o rei mandou que aquele moço desconhecido lhe confessasse, sob pena de morte, como fizera para fecundar a princesa. Assim, não tendo outro jeito, senão obedecer ao rei, o moço desconhecido lhe mostrou um anel de brilhantes, que estava no seu dedo. E disse ao rei, que se achava um tanto afastado:

- Vossa majestade está vendo este anel? Pois bem, procure-o no seu bolso, pois este anel está dentro dele.

E acrescentou para si mesmo: Com os poderes de Deus e de meu peixinho quero que este anel passe para o bolso do rei.

O rei pôs logo a mão no bolso. E, com surpresa, encontrou o anel. Aí, todos ficaram de bocas abertas e bastante admirados. E, no mesmo instante, o preguiçoso disse ao rei que fora assim que a princesa tivera um filho seu, sem ele ter, nem sequer nunca, chegado perto dela.

O rei teve logo de mandar correr os banhos. E casou o preguiçoso com a filha, vivendo os dois muito felizes por muitos e muitos anos.

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