Havia um rei casado e que não tinha filhos. Gostava muito de caçar, sendo a caça, para ele, a sua maior distração. Um dia, o rei se embrenhou muito pelo mato. Aí ele deu com uma casa e ficou muito admirado. E, para ela, dirigiu-se. Chegando lá, viu uma moça muito bonita. Ele, então, ficou logo muito apaixonado por ela.
No dia seguinte, tornou a ir à caça. E foi à casa da moça. Lá, ele pediu um copo de água. E, quanto mais tempo se passava, mais o rei ficava apaixonado pela moça, a ponto de ele não passar um só dia sem que, a pretexto de ir à caça, não fosse a ver.
Passado algum tempo, a moça apareceu grávida. E ela teve um menino muito bonito, ao qual o rei o pôs o nome de Sol. Depois, teve ela uma menina, que passou a se chamar de Lua. E, mais tarde, outro menino, que teve o nome de Luar. Assim, o rei estava tão alegre com os seus três filhos que já não governava mais o reino nem queria saber mais de palácio. Ele, para não se esquecer um só momento dos três meninos, comprou três lenços: um, com um Sol pintado no centro; outro, com uma Lua; e outro, com um Luar. E, quando ele ia almoçar ou jantar, abria os três lenços, passava-os no rosto e dizia, suspirando:
“Ai Sol; ai, Lua; ai! Luar; quem me dera ver Madalena Sinhá”.
A rainha velha, mulher do rei, que era muito ciumenta, desconfiou logo que não era somente a caça que tanto distraía seu marido, a ponto de ele não mais governar o reino e aborrecer o palácio. Então, furiosa de ciúmes, chamou um seu criado de confiança e disse-lhe que, se ele descobrisse a causa da distração do rei, ela o alforriava e lhe dava ainda muito dinheiro.
Então, o criado, assim que o rei saiu para a caçada, o seguiu, espreitando-o. E o rei não mais se ocupava com a caça. Entregava a espingarda ao seu pajem e seguia logo para a casa da moça. O criado espião o acompanhou até lá e se escondeu a pouca distância da casa. Quando o rei foi se aproximando da casa, apareceram, na porta, três crianças, cada qual mais linda, que foram logo gritando: “Lá vem papai, mamãe. Venha ver”. Apareceu, nessa ocasião, também a moça. O rei, logo que foi chegando, abraçou e beijou as criancinhas. E entrou.
O criado alcoviteiro, chegando à casa, contou tudo o que tinha visto à rainha. E ela ainda ficou muito desesperada. E procurou logo um meio de se vingar.
Aconteceu que o rei caiu doente. E passou muitos dias sem ir ver os filhinhos e a moça. Por causa disso, a rainha aproveitou essa oportunidade e mandou o seu criado dizer à moça, em nome do rei, que ele lhe mandava dizer que estava muito doente e com muita saudade dos meninos. Mas, não podendo ir até lá, pedia à mãe das crianças que ela as mandasse, uma vez que a rainha não estava em casa.
Depressa, o criado foi até lá para levar o recado. Mas a moça não quis mandar os meninos, com receio da rainha. Então, o criado voltou de novo, dizendo à moça que o rei mandava, com instância, buscar os meninos, porque não podia mais suportar as saudades. Então, a moça preparou a os meninos e mandou-os.
Chegando ao palácio, a rainha trancou as três crianças em um quarto, sem lhes dar alimento algum.
No outro dia, a rainha mandou o criado dizer à moça, em nome do rei, que ele, estando muito mal e querendo vê-la, mandava dizer que ela viesse sem demora.
A moça, estando inocente de tudo quanto se passava, veio com o criado. E, quando chegou ao palácio, foi introduzida pelo criado num quarto. Aí, já estava a rainha velha preparada com uma roda de navalhas e uma máquina em cima de um alçapão falso.
Logo que a moça chegou, a velha agarrou-a e principiou a lutar, com o fim de atirá-la em cima da roda de navalhas. A moça, que era mais forte, defendeu-se com coragem, acabando por sacudir a velha em cima da roda e, seguida, tocou no veio para acabar de matá-la.
O rei, que estava no quarto vizinho, ouvindo o barulho, levantou-se sobressaltado. Muito admirado ficou quando viu Madalena Sinhá ali presente. Logo lhe perguntou como ela ali se achou. E aí ele soube de tudo quanto tinha se dado, sem ele saber. Por causa disso tudo, o rei ajudou também a acabar de matar a velha.
Depois de ver a rainha morte, Madalena Sinhá perguntou por seus filhos. Ela e o rei terminaram encontrando as três crianças em um quarto e quase mortos de fome.
O rei, vendo-se livre da rainha malvada, casou-se com Madalena Sinhá e mandou degolar imediatamente o criado alcoviteiro.