Havia em um lugar um homem velho e muito pobre, tão pobre que não tinha o que comer.
Um dia roubaram o tesouro do rei, e este disse que quem adivinhasse a pessoa que o tinha roubado ganharia uma grande soma de dinheiro. Levantaram um falso ao velho muito pobre e foram dizer ao rei que ele tinha dito que sabia quem havia roubado o tesouro. O rei mandou-o chamar e lhe deu três dias para adivinhar, sob pena de morte.
Ficou o pobre homem no palácio, com ordem de comer do bom e do melhor. Logo no primeiro dia, apareceu um criado que o serviu de muitos bons manjares. E o homem comeu até não poder mais. Quando acabou, virou-se para o criado e disse:
- Graças a Deus, que já vi um.
Isso foi se referindo ao bom passadio, pois na sua vida era aquele o primeiro dia que ele tinha comido melhor.
O criado, que era um dos cúmplices do roubo, ficou muito espantado e foi dizer aos outros dois companheiros o que tinha ouvido do velho. Então assentaram que, no outro dia, iria outro criado servir ao velho, para ver o que ele dizia. Com efeito, depois de ter comido e bebido bem no segundo dia, diz o velho para o criado:
- Graças a Deus, que já vi dois.
O criado, muito desconfiado, disse aos outros:
- Não há dúvida. O homem sabe que fomos nós que roubamos o rei.
Então, o terceiro criado, para mais acreditar, foi servir o velho no terceiro dia.
Depois que comeu bem, o velho repetiu:
- Graças a Deus, que já vi três.
Aí o criado se ajoelhou aos pés do pobre homem e declarou que, com efeito, tinham sido eles que tinham roubado o tesouro do rei, mas que ele guardasse segredo, que eles prometiam de entregar toda a quantia.
O velho, que estava condenado à morte, assim que se viu senhor do segredo, jurou não declarar quem tinha feito o roubo e foi logo entregar o tesouro ao rei. Este ficou muito contente e recompensou o velho com uma grande soma de dinheiro.
Os criados, por sua vez, não fizeram mais outro roubo, com medo de serem descobertos.