Literatura do Folclore: O violino do macaco - conto

Por causa da fome que era muita, um macaco resolveu deixar a sua terra e ir procurar outro lugar, entre estranhos, a fim de conseguir trabalho. Até que, felizmente, ele recebeu abrigo, com um parente dele, um orangotango, que morava em outra parte do país.

Quando o macaco havia trabalhado por um certo tempo, pensou em voltar para seu lugar. E, como recompensa, seu parente lhe deu de presente um violino e também um arco e uma flecha. E lhe avisou que, com o arco e a flecha, ele poderia acertar e matar qualquer coisa que ele desejasse. E, com o violino, ele poderia obrigar qualquer coisa a dançar.

E assim o macaco se foi. O primeiro que ele encontrou, durante seu retorno, foi o irmão lobo.  Este velho companheiro foi logo lhe contando as novidades. E avisou ao macaco que estava ali, desde cedo, tentando perseguir um cervo. Mas tudo em vão.

Então o macaco lhe falou todas as maravilhas do arco e da flecha, que ele carregava nas costas. E lhe garantiu que, se avistasse o cervo, ele iria acertá-lo e matá-lo. Foi tudo bem rápido: quando o lobo lhe mostrou o veado, o macaco aprontou-se e derrubou o cervo.

Eles dois fizeram uma boa refeição juntos. Mas, em vez do lobo ser grato, o ciúme se apoderou dele. E pediu para o macaco lhe dar o arco e a flecha.

Mas o macaco recusou-se a lhe dar. Aí, o lobo usou sua força para ameaçá-lo. E aproveitou-se quando o chacal vinha se aproximando, para lhe dizer que o macaco havia lhe roubado o seu arco e a sua flecha.

O chacal, tendo ouvido falar do arco e da flecha, declarou-se incompetente para resolver o caso sozinho. E propôs que levassem a questão para o Tribunal do Leão, do Tigre e dos outros animais.

E, enquanto eles decidiram ir ao Tribunal, o chacal declarou que iria tomar de conta do que tinha sido a causa da discussão, já que seria mais seguro, para não acontecer nada contra os dois.

O coitado do macaco perdeu a causa no Tribunal. O testemunho do chacal foi contra ele, porque pensava que, dessa forma, seria mais fácil obter o arco e a flecha para si mesmo.

Assim, a sentença foi contra o macaco. O roubo foi encarado como um grande crime: ele seria enforcado.

O violino ainda estava ao seu lado. E o macaco recebeu, como um último desejo do tribunal, o direito de tocar uma música nele.

Ele era um mestre dos truques de sua época. E além disso, tinha o maravilhoso poder de sua rabeca encantada. Assim, quando ele emitiu a primeira nota do “Canto do Galo” no violino, o tribunal começou logo a mostrar uma vivacidade incomum e espontânea. E, antes de terminar a primeira estrofe da valsa da velha canção, toda a corte estava dançando, como um redemoinho.

Mais e mais, mais rápido e mais rápido, tocou a melodia do “Canto do Galo” no violino encantado, até que alguns dos bailarinos, exaustos, caíram, embora ainda mantendo seus pés em movimento.

Mas o macaco, músico como ele era, ouviu e não viu nada do que tinha acontecido à sua volta. Com a cabeça colocada carinhosamente contra o instrumento, e seus olhos meio fechados, ele tocou, mantendo a cadência com o seu pé.

O lobo foi o primeiro a gritar em tom suplicante, sem fôlego:

- Por favor, pare, primo macaco. Pelo amor de Deus, por favor, pare.

Mas o macaco nem conseguiu sequer ouvi-lo. Mais e mais a valsa “Canto do Galo” parecia irresistível.

Depois de um tempo, o leão mostrou sinais de fadiga. E, quando ele rodava mais uma vez com a leoa, ele rosnou, quando passou perto do macaco:

- Todo o meu reino é vosso, macaco, se você parar com essa música.

- Eu não quero isso, respondeu-lhe o macaco, mas retire a sentença e devolva o arco e a flecha.

E também disse para o lobo:

- E você, lobo, reconheça que foi você quem roubou o arco e a flecha de mim.

- Eu reconheço, eu reconheço. - gritou o lobo bem alto, para todos os que estavam no Tribunal ouvirem.

E o leão, no mesmo instante, chorou, anulando a punição.

O macaco ainda deixou-os girando mais uma vez ao som da valsa, e depois recolheu seu arco e sua flecha. E sentou-se no alto da árvore de espinhos mais próxima.

A corte e outros animais estavam com tanto medo que ele pudesse começar de novo a tocar que, apressadamente, correram para outras partes do mundo.

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