O bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma casa. Achou um local bom. Roçou-o e foi-se embora. A onça, que tivera a mesma ideia, chegando ao mato e encontrando o lugar já limpo, ficou radiante. Cortou as madeiras e deixou-as no ponto. O bode, deparando a madeira já pronta, aproveitou-se, erguendo a casinha. A onça voltou e tapou-a de taipa. Foi buscar seus móveis e, quando regressou, encontrou o bode instalado. Verificando que o trabalho tinha sido de ambos, decidiram morar juntos.
Viviam desconfiados um do outro. Cada um teria sua semana para caçar. A onça foi primeira e trouxe um cabrito, enchendo o bode de pavor. Quando chegou a vez do bode, ele viu uma onça abatida por uns caçadores. E a carregou até a casa, deixando-a no terreiro. A onça, vendo a companheira morta, ficou espantada:
- Amigo Bode, como foi que você matou essa onça?
- Ora, ora, matando. - respondeu o bode cheio de empáfia. Porém, insistindo a onça em lhe perguntar como havia matado a companheira, disse o bode: – Eu enfiei este anel de contas no dedo, apontei-lhe o dedo e ela caiu morta.
A onça ficou toda arrepiada, olhando o bode pelo canto do olho. Depois de algum tempo, disse o bode:
- Amiga onça, eu lhe aponto o dedo.
A onça pulou para o meio da sala gritando:
- Amigo bode, deixe de brincadeira.
Tornou o bode a dizer que lhe apontava o dedo. A onça pulou para o meio do terreiro. Repetiu o bode a ameaça, e a onça correu pelo mato adentro, numa carreira danada, enquanto ouviu a voz do bode: “Amiga onça, eu lhe aponto o dedo”. E nunca mais a onça voltou. Então o bode ficou sozinho na sua casa, vivendo de papo para o ar, bem descansado.