Havia uma onça que morava em uma serra e só descia lá de cima para fazer carneação. Um dia, quando descia encontrou um boi, e ficou logo com vontade de o atacar traiçoeiramente. Então disse a onça ao boi: “Compadre, você como bom mateiro não me dará notícia de um companheiro seu, que vivia aqui neste carrasco, e que era meu amigo, e que há muitos dias não vejo?” - “Ontem estive com ele no bebedouro e creio que ele está lá me esperando; se você quer, amiga onça, vamos juntos até lá”. Assim falou o boi. A onça respondeu. Esta não caio eu, que estou com fome, e por lá não há carneiro, que se possa pegar, além de que lá fico perto do meu inimigo.” - “Quem é seu inimigo?” perguntou o boi. “É um lavrador, que tem cara de matar trinta onças, que fará a mim sozinha e lá não tem arvoredo de que possa me valer.”
O boi: “Mas você, comadre onça, se teme é porque alguma fez; quem não deve não teme.”
A onça: “Compadre, não se lembra quando eu peguei aquele bezerro naquela maiada? Correram atrás de mim três amigos cachorros, que um deles era danado; só de gritos me trazia atordoada. Só descansei quando pude me trepar numa árvore, a ver se punha as unhas nos moleques. Mas qual?! Fugiam para trás como o diabo!!”
O boi: “Então, comadre onça, você só é gente tendo arvoredo? Vamos cá para o limpo.”
A onça: “Mas o compadre está me puxando para o limpo; parece que está desconfiado!”
Assim uma procurava o mato e o outro o largo, até que se ausentaram um do outro.