Literatura do Folclore: A onça e o coelho - conto

Uma onça tinha uma roça. Mas, como a roça estava toda coberta de cansanção, e ela não a podia limpar,  reuniu diversos animais e disse:

- Aquele que me limpar esta minha roça, sem se coçar, vai ganhar de recompensa um boi.

O macaco foi o primeiro que se ofereceu para fazer o trabalho. Principiou a roçar, mas a onça teve de despedi-lo logo, porque ele se coçou.

Seguiu-se o bode que, por sua vez, também não pôde continuar. Afinal, apareceu um coelho, dizendo que queria limpar a roça. Ao vê-lo destemido, a onça disse para ela mesma: “Se os outros animais não roçaram, quanto mais esse coitado coelho”. Mas, em todo o caso, aceitou-o. E ele principiou o seu trabalho.

O coelho limpou um bom pedaço. E, como a onça já estava cansada de estar ali prestando atenção, saiu, deixando um filho seu tomando de conta do serviço. E ainda preveniu ao seu filho que ele reparasse se o coelho se coçava.

O coelho, aproveitando a ausência da onça, virou-se para o filho da onça e lhe disse, para se poder coçar:

- Ó menino, o boi que sua mãe vai me dar é pintado assim, assim, neste lugar, assim… - e aí se coçava a valer.

O filho da onça, muito tolo, lhe respondia:

- É.

E o coelho continuava o seu trabalho. E, quando o cansanção lhe passava pelas pernas, orelhas, ou qualquer parte do corpo, e nisso se coçava todo. Desse  jeito, roçou a roça toda e ganhou o boi. Então lhe disse a onça:

- Compadre coelho, vou lhe dar um conselho. Você deve matar esse boi onde não houver moscas nem mosquitos. E também onde não cantar galo nem galinha.

O coelho ouviu o conselho da onça e saiu com o boi. Caminhou um bom pedaço e reparava. Ouvia o galo cantar e então dizia: “Ainda não é aqui”. Caminhou durante muito tempo e, quando não viu mais moscas nem mosquitos, nem ouviu galo cantar, matou aí o boi e principiou a esfolá-lo Foi aí que lhe apareceu a onça dizendo:

- Compadre coelho, por favor, me dê um pedaço desse boi, que eu estou grávida e receio abortar.

O coelho partiu um bom pedaço, que ela devorou de uma só vez. Ainda não satisfeita, tornou a pedir mais um pedaço. E isso foi já ameaçando o coelho de matá-lo. Como se tivesse muito medo dela, o coelho lhe foi dando a carne todas as vezes que ela pedia. E terminou a onça comendo o boi todo.

Depois, voltou o coelho para casa somente com o facão nas costas, muito triste, mas prometendo se vingar da onça. Prestou, então, ao lugar por onde ela passava e, para lá, foi cortar uns cipós. Nisso, apareceu a onça e lhe perguntou o que ele estava ali fazendo. O coelho lhe respondeu que Deus iria castigar o mundo, mandando uma grande ventania, e que ele estava tirando aqueles cipós para se amarrar. A onça instou muito para que ela fosse amarrada por primeiro, ao que o coelho fingiu não querer, dizendo que ainda tinha de ir para casa amarrar toda a sua família. Insistindo a onça, disse-lhe o coelho que, como ela era sua comadre, ele lhe faria aquele favor. E principiou a amarrar a onça.

Quando a onça já não podia mais se bulir, disse para o coelho que ele afrouxasse mais os cipós. Mas ele continuou a apertá-la, dizendo que só assim ela resistiria ao vento. E, depois, o coelho saiu correndo.

Passou por ali o macaco. A onça lhe pediu para desamarrá-la. Respondeu-lhe o macaco:

- Deus ajude a quem aí te botou. - e foi passando.

Veio o veado. A onça lhe pediu a mesma coisa. E o veado lhe deu a mesma resposta. Com o bode, aconteceu o mesmo. Aí o coelho se lembrou da onça e foi ver se ela ainda estava viva. E a onça, assim que o viu, pediu para ele desamarrá-la. Mas o coelho fingiu não ser ele o autor da obra e, fingindo estar muito penalizado, principiou a desatar os cipós, para ver se ela assim não o comia.

A onça, assim que se viu desamarrada, avançou para o coelho. E o quis pegar. Ele, então, correu e se meteu num buraco. Mas a onça conseguiu ainda lhe pegar numa perna. Quando o coelho se viu com a perna presa, disse:

- Comadre onça ainda é muito tola. Pensa que uma raiz de pau é minha perna.

Ouvindo isso, a onça soltou-o e, então, pegou na raiz do pau. O coelho se escondeu lá no fundo do buraco. E a onça, ao ver uma garça pousada numa árvore, lhe disse:

- Comadre garça, fique botando sentido aqui que eu vou buscar uma enxada para cavar esse buraco, e não deixe o coelho se escapar.

A garça ficou lá no pau, e o coelho lhe disse:

- Oh, é assim? Quem bota sentido a coelho vem para a porta do buraco, arregalando bem os olhos.

A garça desceu e veio para a porta do buraco, arregalando bem os olhos. O coelho lhe atirou uma porção de areia e saiu, sem que ela o visse.

Quando a onça chegou, principiou a cavar, mas nada de encontrar o coelho. Ela, então, perguntou à garça:

- Comadre garça, onde está compadre coelho?

A garça lhe respondeu:

- Eu não sei não. Ele atirou uma porção de areia nos meus olhos e eu não vi mais nada.

A onça ficou muito desapontada e foi embora. 

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