Bab e Ufel eram dois pequenos primos órfãos. Morava com a tia Olsa. Bab era egoísta invejoso e astuto. Ufel era uma alma ingênua e doce.
Faltavam poucos dias para o Natal. E as crianças pensavam nos confeitos que iriam receber de presente. Um dia, Ufel disse a Bab:
- A tia comprou um saco de doces e fechou-o na arca do carvalho.
- Como é que tu sabes disso?
- Foi que eu abri o baú. E abri o saco e vi os confeitos.
- Viste mesmo? E como é que são eles?
- Têm grandes e pequenos compridos. Têm redondos. Têm de todas a cores: brancos, azuis, vermelhos, amarelos. Alguns estão cheios de licor. E outros, de nata.
- E são bons?
- Deliciosos. Eu ainda comi cinco.
Bab não fez nenhum comentário. Estava contente por haver obtido uma arma contra o primo. E imaginou se utilizar do segredo que o primeiro lhe fizera, para tirar proveito. Até esperou com paciência o momento oportuno para, depois, denunciá-lo. E não escondeu nenhum detalhe. Foi aí que a tia ficou no auge da cólera:
- Teu primo é um ladrãozinho. Eu vou castigá-lo. Vou lhe dar somente cinco confeitos, para que ele se lembre do número exato dos que ele tirou sem meu consentimento. Os outros que estão dentro do saco serão todos teus.
Baba ficou todo contente. Mas o gnomo Kurel, que não apreciava ver coisa malfeitas, desgostou-se com a avidez e perversidade do rapaz. E, então, cuidou-se de lhe dar uma severíssima lição.
No dia de Natal, Olsa acordou os dois sobrinhos, que foram correndo examinar os sapatos. No de Bab, havia um saco cheio de confeitos. No de Ufel, apenas um pratinho, com somente cinco doces. Isso deixou o menino sem compreender aquilo.
- Por que essa injustiça dia? - perguntou Ufel à tia Olsa, com os olhos marejados de lágrimas.
- Ah, não te recordas mais da negra ação que tu cometeste?
- É verdade tia. Eu provei cinco confeitos. Mas não fiz por mal, foi só por curiosidade. Não pensava que fosse uma falta tão grave. Tanto assim que não escondi a ninguém, e contei tudo a Bab.
- Pois isso, para mim, é uma falta gravíssima. Tu foste um ladrão. Teu primo, ao contrário, foi um menino escrupuloso e honesto. E ele me contou tudo.
A mulher se afastou. Ufel, para ver se disfarçava o anseio de se desfazer em lágrimas, pôs na boca um confeito. Espantou-se: estava excelente. Sentiu, entre a língua e o céu da boca, o aroma de um rosal em flor. O segundo confeito lhe trouxe uma súbita consolação no seu gosto. O terceiro lhe tirou completamente a vontade de chorar. O quarto, parecia que derramava doçura até a alma e o coração. E o quinto foi a delícia das delícias.
Terminado o prato, saiu Ufel, todo feliz, a fim de ir passear no jardim. Ia assobiando satisfeito, como um pardal que encontrava abundância de grão. Mas, quando reparou, ficou cheio de alegria, surpreso e feliz: o pratinho estava, novamente, com cinco confeitos, exatamente iguais aos que ele acabara de saborear. E ele reiniciou a degustar as mesmas delícias: um, dois, três, quatro e cinco. Pronto, o pratinho esvaziado. Mas se encheu outra vez. Kurel, acocorado entre os ramos de uma árvore, piscava os olhinhos risonhos e luzentes como a querer lhe dizer: “Nada receies, pois, no dia de hoje, o teu pratinho não se esvaziará nem um instante”.
E assim aconteceu. Depois que, pela terceira vez o menino saboreou os maravilhosos bombons, surgiram, no prato, mais cinco.
Bab, no entanto, ainda não conseguira satisfazer a sua gulodice, apesar do vistoso saco de papel, que ele prendia nas mãos. Os confeitos dele se transformavam em pedra, assim que ele os metia na boca.
Bem depressa, a tia veio correndo, para saber por que é que ele chorava. E não teve outra coisa mais para fazer, a não ser assistir ao prodígio, mas sem saber como explicá-lo.
Ufel, que era uma alma generosa, entregou o pratinho ao seu primo:
- Toma estes confeitos para ti. Eles são deliciosos. E não se esgotam nunca. Eu já comi o suficiente para me satisfazer.
Mas os confeitos de Ufel, quando entraram na boca de Bab, transformaram-se em seixos. Foi aí que todos os três ouviram, então, a voz de Kurel:
- Olsa, você não soube fazer justiça. Você premiou o menino mau e castigou o menino bom. Você transformou uma situação, que poderia ser corrigida com uma reprimenda, em um feio crime. A justiça, porém, foi feita. E o equilíbrio se restabeleceu assim.
- Quem é que está falando essas coisas?… - disse atordoada a tia Olsa e, ainda, despeitada por se ver censurada daquela forma.
Ouviu-se uma risada irônica. Aí, os confeitos do saco se transformaram em lesmas viscosas. E os cinco confeitos do pratinho se mudaram em cinco galinhas de ouro, que botavam ovos de açúcar e creme.
Bab compreendeu um pouco tarde aquele Natal. Mas, felizmente, ainda cedo para a sua vida.