Literatura do Folclore: A princesa que não queria se casar - conto

Macienka, a princesa belíssima, não queria saber-se de se casar. A todos os pedidos, feitos pelos maiores fidalgos da terra, pelos mais poderosos monarcas, pelos príncipes mais galantes, respondia sistematicamente com uma negativa.

O rei seu pai perdeu a paciência. E um dia que a recusa chocou o monarca de um reino vizinho com o qual lhe teria convindo fazer uma aliança de família para maior garantia da paz entre os dois povos, falou-lhe com severidade:

- Você não é mais uma criança. Já chegou a hora do casamento para sua idade. Dentro de três dias mandarei reunir, aqui na corte, mil jovens. São aristocratas, reis guerreiros famosos, artistas célebres. Poderá você escolher à sua vontade, entre a nobreza, a inteligência, a valentia. Aqui está uma maçã de ouro que oferecerá ao pretendente que mais lhe agradar. Esse terá a sua mão de esposa.

Macienka não ousou manifestar a nenhuma aquiescência a tal projeto. Mas correu imediatamente ao jardim e, sem ser vista, atirou a maçã num tanque.

No dia marcado para o grande desfile, quando o rei apareceu para informar-lhe que os pretendentes estavam à sua espera no vasto salão das esmeraldas, a moça confessou não ter mais em seu poder a maçã de ouro.

O rei quase perdeu a cabeça, de furor.

- Será possível que tem você perdido a maçã mágica? Só com ela entre as mãos teria adivinhado quais os jovens aristocráticos teria podido fazer você feliz.

Macienka só então compreendeu a enormidade do que fizera. Agora, estava perdida a grande oportunidade para uma escolha acertada.

- Meu pai, a maçã de ouro foi perdida no jardim. Vou procurá-la. Tenho esperança de que a encontrarei.

- Mas os seus pretendentes esperam.

- Hão de ter paciência.

A moça foi ao jardim, sentou-se à borda do tanque e pôs-se a olhar o espelho tranquilo das águas.

- Pobre de mim, passou a lamentar-se. Devo escolher um esposo e cometerei sem dúvida um erro irreparável. Ah! Se essa pequenina maçã pudesse voltar às minhas mãos, para me guiar, me iluminar, levar-me para a felicidade.

As águas se agitaram, um peixe verde aproximou-se, pôs a cabecita para fora da água e falou:

- Eu tenho a maçã de ouro. Você a atirou sobre mim, fui o escolhido. Comigo é que casará.

- Lindo peixinho, devolve-me a maçã de ouro.

- Com a condição, como já disse, de casar comigo.

- Como poderia eu me casar com um bichinho como você? Como faríamos para viver juntos? Eu não sei viver no fundo de um tanque, e você certamente não viveria ao ar livre. 

- A não ser por isso, você me aceitaria?

- E por que não? Parece-me tão tão digno de uma princesa quanto qualquer outra criatura?

O peixe deu um salto e veio depor o fruto de ouro no colo da princesa. Depois, disse-lhe:

- Vai ao salão. Dentro de alguns minutos, lá estarei.

Macienka foi correndo para o salão onde os pretendentes já começavam a dar sinais de impaciência. Foi um momento de expectativa quando ela passou a esquadrinhar a multidão. E eis que chega, lá no fundo, um garboso rapaz. Está todo molhado, a escorrer água, como se acabasse de sair de uma piscina. Tem na cabeça um gorro de veludo em forma de peixe, traz uma capinha verde com escamas irisantes. Faz de longe um gesto animoso à princesa. 

Então Macienka não hesitou mais. Atravessou a multidão de pretendentes, que abria ala à sua passagem, foi ao fundo do salão e entregou a maçã de ouro ao recém-chegado.

O rei proclamou imediatamente o noivado da filha com o misterioso personagem. Mandou, entretanto, que ele se apresentasse e dissesse quem era e de onde vinha.

- Sou o príncipe Kaleb, disse. Uma bruxa, inimiga de meu pai, me havia transformado em peixe, predizendo que eu só me libertaria do meu encantamento no dia em que uma princesa aceitasse meu pedido de casamento. O gesto impensado da tua filha, arrojando a maçã de ouro ao tanque teve esse resultado benéfico para mim, pois trouxe o ensejo que , havia muito, eu estava a procurar. 

O casamento se realizou pouco tempo depois, quando ainda em sua grande maioria os mil pretendentes se encontravam na corte, o que muito concorreu para o inusitado brilho da festa. E como o príncipe, além de garboso, era muito generoso e dono de um temperamento muito compreensivo, jamais deu motivo a que Macienka tivesse de que se arrepender com a escolha. 

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