Literatura do Folclore: A princesa mentirosa - conto

Certa vez, um rei possuía uma filha. A sua princesa se orgulhava de ser grande mentirosa. E nunca dizer a verdade. Por causa disso, o pai não gostava dessa mania de sua filha. E resolveu fazer um decreto, que dizia assim: “Aquele ou aquela pessoa que contasse a mentira maior do que todas as mentiras de sua filha, e ainda fizesse que ela dissesse que era verdade, essa pessoa ganharia a metade do seu reino e a mão da sua filha, a princesa”.

Então, muitos homens tentaram, pois todos queriam ganhar a metade daquele grande reino e ainda se casar com a princesa que era uma moça muito linda. Mas só que ninguém conseguia contar a tal história mentirosa. E, assim, ninguém batia a bela princesa.

Mas, como tudo tem seu dia, morava, próximo ao reino, três irmãos muito pobres. Os rapazes, então, decidiram tentar a sorte. O caçula quis ir também, mas os dois mais velhos não deixaram. Para eles, eram um deles que iriam vencer a princesa. E, assim, foram.

Chegaram ao castelo. O mais velho se apresentou ao rei e a sua filha, dizendo-lhes:

- Eu tenho tanta força nos dentes que consigo mastigar uma barra de ferro como se fosse água.

Na hora, a Princesa lhe fez pouco caso:

- Claro que acredito. Eu mesmo tenho um touro que mastiga ferro, prata e ouro. Depois, cospe tudo para fora, em forma de joias. Todos os meus anéis, as minhas pulseiras e as minhas tiaras foram todos cuspidos por ele.

O rapaz baixou a cabeça. Mas o irmão do meio contou-lhes a sua história:

- Meu irmão tem força nos dentes. Mas eu, eu tenho força é nos braços. Eu levanto, só com o braço direito, duas carroças cheias de ouro. E com o braço esquerdo mais duas, cheiinhas de prata.

E a princesa só fez suspirar, após a história. E lhe disse:

- Também não vejo dificuldade para acreditar nessa sua conversa. Outro dia, esse mesmo meu touro, sozinho, trouxe para a terra vinte navios, cheiinhos de ouro, prata e diamantes.

O coitado irmão do meio ainda lhe insistiu:

- Mas isso não é vantagem. Minha princesa sabe que um touro é mais forte que um homem? Ele pode arrastar é um bocado de navios até o porto.

A princesa lhe deu uma gargalhada:

- Mas não foi só até o porto não. Ele arrastou os navios foi até o castelo. Todas as embarcações deixaram sulcos na terra, que se encheram da água do mar, que se transformaram em rios. E tem mais: todos os navios foram desmontados e as suas madeiras ajudaram a construir várias casas do reino.

Diante daquilo, o irmão do meio, envergonhado, baixou a cabeça. Terminaram os dois derrotados voltando para casa.

Ao chegarem tristes à casa deles, o irmão caçula tomou a decisão de ir ele mesmo até lá no castelo, a fim de enfrentar a princesa. E ele partiu para o palácio. E se apresentou ao rei. Disse-lhe, com firmeza, que iria contar a sua história. Só que não seria ali, na sala do trono. Queria encontrar a princesa no estábulo. E pediu ao rei e a sua corte para ficarem escondidos e todos deveriam ouvir tudo. E assim foi feito.

O rei deu um jeito de mandar a filha ao estábulo. De longe, o rei e toda a sua corte ficaram escondidos, para ouvirem tudo.

Aí, o caçula apareceu na frente da princesa, que estava cuidando de um touro enorme. Ao chegar lá na estrebaria, o caçula disse-lhe:

- Bom dia, bela princesa.

- Bom dia. – respondeu-lhe a jovem, sem saber quem ele era e o que ele estava fazendo ali.

- Mas que touro mais pequenino é esse. - disse-lhe o caçula. - Eu acho que eu nunca tinha visto um touro desse jeito, tão pequeno como esse.

Na hora, a princesa ficou espantada. Na vista dela, o touro era enorme. Mas a moça disfarçou e lhe foi dizendo:

- É verdade o que você está dizendo. Ainda mais comparado com uma vaca que eu tenho.

- Essa sua vaca é mesmo grande, como você diz? - perguntou-lhe o rapaz.

- Enorme. Enorme - respondeu-lhe a princesa.  - Ela é tão grande, mas tão grande, que todos os dias ela enche de leite quatro tonéis, que são maiores que o palácio do rei.

Aí o rapaz falou-lhe:

- Ah, agora entendi. Então é isso.

- Isso o quê?… - logo quis saber a princesa.

E o rapaz, calmamente, sem se mostrar nervoso, continuou-lhe explicando. Falava sem parar, nem para respirar:

- Eu encontrei um desses tonéis. Mas, como não sabia o que tinha dentro, fui ver e caí no leite. Quase que eu me afogava. Ainda bem que eu fui salvo pelo vento Norte, que soprou seu ar quente e fez o leite ferver. Aí, fui subindo com o vapor até chegar  a uma nuvem. Lá, na nuvem, fiquei por um tempo. Até que o vento veio de novo. Ele não gostou de me ver lá, porque aquela nuvem era a cama dele. E todo vento precisa descansar, não é? Aí, ele me botou pra correr. Fui pulando, de estrela em estrela, até que cheguei à lua. Quando cheguei lá, eu estava com uma fome enorme. Mas, como a lua é feita de queijo, eu pude me alimentar. E eu já estava chateado de comer tanto queijo, quando passou um cometa. Foi aí que eu agarrei ao rabo do cometa e eu fui guiando o cometa até ele ficar justinho em cima do tonel de leite. Assim, larguei a cauda do astro celeste e achei que ia cair no leite e me salvar. Mas o vento Norte, que estava dormindo e roncando, ventou justamente quando eu ia passando por sua nuvem. E, assim, desviou meu caminho. Aí, eu fui cair num buraco de um casal de raposas. Mas eu fiquei feliz porque as raposas eram o seu pai, o rei, junto com sua mãe, a rainha. E foi aí que eu tive mais sorte: todo mundo sabe que o seu pai não toma banho, não é? E imagina que caiu uma semente de figo na cabeça dele e cresceu uma figueira. E se encheu de frutos. Foi muito bom porque a minha viagem foi longa e eu estava de novo com fome. Foi só colher os frutos para comer e depois…

Dessa vez, o rapaz não pode mais continuar.  A princesa, já com tanta raiva do converseiro do rapaz, gritou para ele:

- Deixe de tanta mentira. Meu pai toma banho todo dia e nunca cresceu figo na cabeça dele.

O rei e a sua corte saíram do esconderijo na maior festa, pois o caçula vencera. E ganhou a metade do reino e a mão da princesa que, desse dia em diante, nunca mais falou nenhuma mentira.

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