Literatura do Folclore: Quem muito quer muito perde - conto

Um homem muito pobre vivia de maneira tão triste que até fazia dó. Ele não era um preguiçoso. Ele trabalhava sem parar, mas não adiantava nada. Continuava sempre naquela imensa pobreza.

Certo dia, o homem pobre se mostrava muito cansado e muito desanimado. Então, ele decidiu ir falar com Deus. E chegou a seguinte conclusão: quando chegasse lá, ele iria contar para Deus que se sentia muito injustiçado e não merecia aquela tal sina. E iria pedir a Deus que mudasse aquela sua vida de tanta pobreza. E, assim, ele saiu de casa e foi ao encontro de Deus. Sozinho, ele seguiu uma estrada desconhecida. Mas, no caminho, ele se encontrou com um lobo.

- Bom dia, senhor, disse o lobo para o homem pobre. - Que prazer encontrar o senhor. Pra onde o senhor está indo agora?

- Eu estou indo falar com Deus, respondeu-lhe o homem pobre. - Eu vou falar para ele, com toda franqueza, que ele foi e está sendo injusto comigo. E eu vou lhe pedir para que ele corrija essa sua tão grande injustiça.

- Muito bem. Muito bem. Tenha boa sorte. Ah, mas quando você se encontrar com Deus, você pode fazer um favor pra mim?

- Posso. Não tem problema.

- Pois você diga a Deus que eu também fui discriminado por ele. É, meu senhor, eu passo o dia todo procurando alguma coisa preu comer. E nada eu encontro. Aí você pergunte a Deus por que é que ele me criou, e se foi preu morrer de fome. E quanto tempo ainda vai durar o meu sofrimento?

- Está bem, está bem. Eu vou falar de você pra Deus. - confirmou o homem pobre para o lobo. E, em seguida, prosseguiu seu caminho.

Depois de andar um bocado, o homem pobre encontrou uma linda moça.

- Bom dia, senhor. Para onde o senhor vai tão apressado assim? - perguntou-lhe a moça.

- Eu estou indo falar com Deus. Eu tenho um pedido a lhe fazer. - e o homem explicou para a moça a conversa que ele planejava ter com Deus.

- Pois eu lhe desejo-lhe muita sorte. Mas, mas, o senhor não quer falar de mim também?

- Posso. Não tem problema.

- Já que o senhor pode, diga a Deus que existe, na face da terra, uma moça bonita, rica, com bastante saúde, mas que vive muito infeliz. Esta moça sou eu. E lhe pergunte, então, o que ele pode fazer por mim, para eu poder alcançar a felicidade?

- Pode deixar, pode deixar. Eu vou falar de você também. - prometeu-lhe o homem e seguiu seu caminho.

Andou, andou um bom tempo. E, cansado, parou embaixo de uma árvore sem folhas.

- Para onde o senhor está indo? - perguntou-lhe a árvore.

O homem, ainda assustado por ouvir a árvore falando, explicou-lhe o que ele estava indo fazer.

- Ah, meu senhor, sendo assim, o senhor não quer falar de mim também?

- Posso. Não tem problema.

- Pois assim, lhe diga que eu não consigo entender meu destino. Fale pra ele que, apesar de eu ter boas raízes num terreno fértil, os meus ramos vivem sempre sem nenhuma folhagem. E lhe pergunte quando é que eu terei lindas folhas verdes como as outras árvores?

O homem prometeu à árvore que iria falar com Deus a respeito dela e, em seguida, continuou a sua viagem. Andou dias e noites. Por fim, chegou perto de Deus. Com humildade, cumprimentou-o e esperou que Deus lhe falasse algo.

- Meu filho, disse-lhe Deus, com certeza você veio até aqui para me fazer um pedido, não foi? Pois fale, fale, que eu estou aqui para ouvi-lo.

Diante de Deus, o homem pobre quis fraquejar, começou a se tremer. Mas, de repente, tomou força e começou a falar para Deus.

- Dizem que o senhor é imparcial. Que o senhor trata todos os homens da mesma maneira. Pois bem, eu vou lhe dizer uma coisa: eu, senhor, trabalho feito um doido, desde o sol nascer até a boca da noite.  Eu faço de tudo o que o senhor possa imaginar. Mas, apesar disso tudo, eu continuo sendo um homem pobre. Eu e os meus lá de casa fazemos apenas uma refeição por dia. Por outro lado, eu conheço muitas pessoas que trabalham pouco e são ricos, levando uma vida que não lhes faltam nada. Eu pergunto ao senhor agora: cadê a igualdade?

- Oh, muito bem, muito bem, meu filho. Pois então eu vou lhe dizer: a partir de hoje, você se tornará rico e feliz. Pode ir agora de volta para a sua casa bem feliz e procure, meu filho, aproveitar bem essa sua mudança de vida, pois você, a partir de agora, vai encontrar a sua sorte.

O homem agradeceu a Deus por sua tamanha bondade. Mas, antes de ir embora, falou das súplicas do lobo esfomeado, da linda moça infeliz e da árvore de ramos sem folhagem. E, para cada caso, Deus deu uma solução. Aí, o homem agradeceu novamente a Deus e tomou o rumo de volta.

Primeiro, encontrou a árvore, que foi logo lhe perguntando.

- E então, qual foi a resposta de Deus?

- Ele me disse, respondeu-lhe o homem, que, debaixo das suas raízes, existe um esconderijo onde se encontra uma enorme quantidade de ouro. Enquanto o ouro não for retirado, as raízes não poderão alimentar seus ramos, que permanecerão sem nenhuma folhagem.

- Mas que notícia boa, regozijou-se a árvore. - Pois, então, você comece a cavar depressa. Aí, pegue todo o ouro para você. E assim você vai ficar rico, e eu vou ter as minhas folhas.

- Sinto muito, sinto muito. Eu não posso. - respondeu-lhe o homem. - Eu não tenho tempo a perder. Deus disse para eu aproveitar a minha sorte. E eu vou procurá-la. Adeus.

E afastou-se a passos largos. Em seguida, o homem encontrou a linda moça infeliz, que lhe perguntou logo ao vê-lo:

- E qual foi, qual foi a resposta de Deus?

- Deus me disse que, para você se tornar feliz, você se case e divida, com seu esposo, as alegrias e as tristezas.

- Se é desse jeito, propôs-lhe a moça infeliz, então você se case comigo. Assim, nós seremos felizes.

- Sinto muito, sinto muito, mas não tenho tempo. Deus disse para eu achar a minha sorte. E é o que vou fazer.

E o homem saiu correndo, à procura de sua sorte. De repente, encontrou-se com o lobo esfomeado, que o esperava já impaciente. E o lobo, correndo ao encontro do homem, perguntou-lhe:

- E então, e então? Você viu Deus? E o que falou para você a respeito de mim?

- Calma, calma, respondeu-lhe o homem, afastando-se um pouco. - Antes, eu quero lhe contar tudo o que aconteceu.

- E para mim, e para mim, o que foi que Deus lhe disse? – agoniou-se o lobo.

- Pois bem, eu encontrei uma bela moça que desejava saber por que ela era tão infeliz. E depois foi uma árvore sem folhagem. Tanto a moça como a árvore me pediu para eu interceder por elas junto a Deus. E Deus disse que a moça deveria se casar para ser feliz. E a moça me propôs que eu me casasse com ela, mas eu não aceitei. Já para a árvore, Deus disse que havia, embaixo das suas raízes, muito ouro e que era só tirar esse ouro e as folhas voltariam a florescer. E a árvore me propôs de eu ficar com o ouro todo. E eu também não aceitei. Deus me disse que era para eu procurar e agarrar a minha sorte. E é isso que vou fazer. Assim, vim correndo.

- É, meu amigo, falou-lhe o homem. - O seu caso é um pouco mais complicado. Você terá que correr, correr, correr, sem rumo na vida, até encontrar um bobão para você devorar e passar essa tão grande fome.

- Mas onde é que eu vou encontrar um bobão melhor que você? - E, numa tão grande rapidez, o lobo agarrou o homem e o devorou.

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