Esta história aconteceu no distrito de Boa Sorte, no município de Pedro Afonso, divisas do Maranhão. Isso foi há muitos anos.
Num rancho, bem no início de uma enorme mata verde, morava um casal de pretos, que tinham um filhinho. O menino era terrível, só fazia estripulias. Era ruim. Arrancava pernas de formigas, roubava filhotes de pássaros dos ninhos. E, ainda, gozava-se da dor das pobres formiguinhas e a aflição das indefesas aves.
Romãozinho era muito preguiçoso. Mas estava sempre pronto para brincar, tocar viola, ou cantar um coco. Já o pai de Romãozinho suava o dia inteirinho na roça, trabalhando na enxada. E a mãe do menino endiabrado fiava, cuidava da casa, para dar de comer à família.
Um dia, a mãe de Romãozinho matou uma galinha gorda, fez um quitute gostoso e mandou que o filho a levasse para o pai, que não vinha da roça, na hora do almoço, e só chegava ao anoitecer.
Romãozinho, resmungando, fazendo caretas, saiu estrada a fora. No caminho, sentindo o cheiro da comida, sentou-se na sombra de um umiri perfumado e devorou, gulosamente, a galinha. Depois, embrulhou os ossos limpos e levou-os ao pai.
Quando chegou à roça, entregou o pacote ao pai que, suarento e esfomeado, abriu-o depressa. Ao dar com os ossos limpos da galinha, perguntou ao menino:
- Onde está a galinha?
- Minha mãe deu ela a um homem, que vai, todos os dias, lá em casa, e que tem liberdades com ela. E foi por isso que ela mandou somente os ossos pro senhor. – caluniou o negrinho malvado.
O lavrador nem sequer enxugou o suor que lhe corria no rosto. Mais que depressa, saiu ele, correndo feito um doido, para o rancho. Romãozinho, muito alegre, foi atrás dele.
Ao chegar à casa, o pai encontrou a mãe sentada a um canto, fiando. Não lhe disse nada. Pegou uma faca comprida e enterrou-a no peito da mulher. E, quando a viu morrendo, o pai de Romãozinho contou-lhe o que o filho lhe dissera. O monstrinho, num canto, olhava a cena, rindo muito.
Nos olhos da pobre mãe, que morria, brilhou uma derradeira luz. E seus lábios frouxos se contraíram, murmurando uma maldição contra Romãozinho.
Pois, desde aquele dia, o negrinho desapareceu. Passou a viver errante, assombrando as estradas, as fazendas e as cidades. Fazia barulho, jogava pedras nos telhados e areia nas janelas, assobiava nas fechaduras, tirava as rédeas das mãos dos cavaleiros e confundia os caminhos.
Romãozinho era a assombração certa dos viajantes e dos habitantes daquela extensa região. No entanto, para os de fora, ele não era maléfico. Ao contrário, dava recados ao ouvido, procurava objetos perdidos, etc.. E os moradores do lugar também puderam conquistar a sua amizade e os seus favores. E, ainda, ofereciam-lhe comidas, que eram postas nas encruzilhadas das estradas.