Este caso ocorreu na Chapada de Veadeiros, que é um tabuleiro de horizontes largos e de terras férteis. As fazendas, nesse lugar, salpicam, de longe em longe, a paisagem verde das planícies imensas. As brisas frescas correm à solta, em liberdade, sacudindo, de vez em quando, uma canela de ema solitária e sonolenta. À noite, o luar envolve tudo em sua luz morna.
Numa dessas fazendas, morava uma cabocla jovem, de faces vermelhas como a romã, de olhos negros e brilhantes, de seios redondos e empinados e de ancas de corça gorda. Romãozinho, que sempre passava por ali, apaixonou-se pela donzela. E, numa noite de luar, à meia-noite em ponto, ele se dirigiu ao quarto da donzela, entrou sem fazer ruído, para não despertar ninguém. E raptou-a, enquanto a moça dormia.
No dia seguinte, a fazenda toda acordou em rebuliço, por causa do desaparecimento da donzela. Sem saber o que pensar, todos se puseram a procurá-la, revolvendo os arredores, ansiosos e aflitos. Mas já o dia ia alto, e nada. Nem sinal da moça desaparecida.
Depois de muita procurar a moça, o pessoal da fazenda, desanimado, resolveu, então, consultar um preto feiticeiro, que havia pelos arredores. E foram até à casa do preto feiticeiro.
O preto pediu que lhe levasse alguma peça das roupas da moça. Era para que, com a peça em mãos, pudesse ele adivinhar o paradeiro dela.
Foram buscá-la. Mas, quando chegaram à casa do preto feiticeiro, a peça de roupa sumiu, como por encanto. O preto, então, com muito medo e pedindo a todos eles segredo, afirmou que aquilo tinha sido obra de Romãozinho. E que ele mesmo, não iria nem mexer mais com aquela história toda. Pois, até hoje, ninguém deste mundo conseguiu ainda encontrar a donzela.