Uma vez, havia um homem que tinha três filhos. O mais velho deles, um dia, foi ao pai e lhe disse:
- Meu pai, eu já estou moço feito e vossa mercê já está velho. E, por isso, eu quero ir ganhar a minha vida.
- Pois bem, meu filho. Mas você quer a minha bênção com pouco dinheiro, ou a minha maldição com muito?
O moço lhe respondeu:
- A sua maldição com muito, meu pai.
Assim foi. E o moço partiu. Depois de andar muitas terras, e passando sempre contrariedades, casou-se.
Um ano depois, o seu irmão do meio foi ao pai e lhe disse que também queria ir ganhar a sua vida. O pai lhe fez a mesma pergunta que ao primeiro. E o moço respondeu como ele e partiu. Depois também de muito viajar e sofrer, casou-se.
Daí a um ano, o irmão caçula também pediu ao pai para ir ganhar a sua vida. O pai lhe perguntou se queria a bênção com pouco dinheiro, ou a maldição com muito. O moço quis a bênção e seguiu caminho.
Depois de andar algum tempo, ouviu uma voz muito bonita, estando ele a descansar perto de uma lagoa. O moço ficou muito maravilhado. E disse que se casaria com a dona daquela voz, fosse lá ela quem fosse. De repente, se viu num palácio muito rico. E lhe apareceu uma sapa para casar com ele. O moço se casou, mas ficou muito triste.
Ora, passando algum tempo, ele e os irmãos tinham de ir visitar a família, pois isso mesmo eles tinham contratado com os pais. Num certo dia, todos três tinham de se apresentar. Todos tinham de levar presentes mandados por suas mulheres. E o rapaz mais moço, casado com a sapa, andava muito aflito, sem ter o que levar.
A sapa lhe disse que o marido lhe desse linhas, pois ela queria aprontar umas rendas para mandar à sogra. O moço deu uma gargalhada e lhe atirou as linhas na água. A sapa gritou todo o dia dentro da lagoa, formando muita espuma. E o moço, desesperado. Mas, quando foi no dia, lhe apareceu uma renda tão linda como ele nunca tinha visto. O moço partiu.
Houve muita alegria lá na casa dos pais. E o presente mais bonito foi o levado pelo caçula. Por causa disso, os irmãos ficaram com muita inveja. Mas chegou o dia de partirem. Despediram-se os moços, para voltarem para suas casas. E os pais lhe pediram para um dia tal voltarem. Foi aí que os dois filhos mais velhos ficaram mais contentes, porque já rosnava por lá que o caçula tinha se casado com uma sapa. E o mais moço nada disse na despedida.
Já em casa, o caçula andava muito triste, pensando na vergonha por que ia passar, se apresentando com uma sapa por mulher.
Quando foi no dia da viagem, a sapa pulou para fora da lagoa com um rancho enorme de sapos e sapinhos. E se pôs a caminho com o moço. Ele a cavalo, e ela num carro de boi, com seu acompanhamento. O moço ia muito triste.
Chegando à casa do pai, todos se puseram a caçoar da sapa, que não dava o cavaco. Na ocasião do jantar, ela, em vez de comer, escondia a comida no seio. E as cunhadas, especialmente, se puseram a ridicularizá-la como porca.
De repente, a sapa tirou do seio uma porção de flores, em que se tinham transformado os bocados de comida. E se desencantou numa princesa muito formosa, que serviu de admiração a todos, menos às cunhadas que morreram de paixão e inveja.