Literatura do Folclore: A última visita da morte - conto

Estavam conversando, no quarto de dormir, um casal. Eles dois se lamentavam sobre a chegada inevitável da Morte. Dizia o marido:

- Ah, se eu pudesse. Se eu pudesse, arranjaria um meio de me tornar amigo da Morte. Quem sabe assim eu não tivesse tanto medo dela.

- Mas você pode conseguir. - advertiu-lhe a mulher. - Para isso, só precisa que você convide a Morte para ser a madrinha de nosso filho caçula, que vai ser batizado no próximo mês. Eu creio que ela vai aceitar esse pequeno favor.

Assim aconteceu. A Morte foi convidada e veio. Após a cerimônia e acabada a festa, já se ia ela retirando, quando o homem se lhe aproximou, e assim lhe disse:

- Comadre Morte, como tem muita gente no mundo para você levar embora, eu espero e desejo que você nunca venha me buscar.

- Muito bom, compadre, o que você acaba de me falar. Só que isso que você acaba de me pedir, eu não posso atender. Eu sou mandada por Deus. E, quando eu recebo ordens para vir buscar alguém aqui, eu tenho de obedecer a Ele. Mas eu vou fazer algo por você: eu lhe darei um aviso, com oito dias de antecedência, para você ir se preparando para eu levar você.

Vários anos se passaram. Até que chegou a vez da Morte vir buscar o compadre. E ela lhe disse assim que chegou:

- Boa noite, compadre. Eu recebi ordem para vir buscá-lo daqui a oito dias, conforme eu antes lhe havia prometido.

-  Peraí, comadre. -  exclamou o homem, -  você voltou muito depressa, logo agora que eu vou tão bem nos meus negócios e, dentro de poucos anos, vou me tornar um homem bem rico. Me faça, por favor, isso, comadre: leve, no meu lugar, qualquer outro homem. Estou certo de que, você sabe fazer.

-  Eu sinto, compadre, explicou a Morte, – mas não é possível. Eu já recebi a ordem e tenho de cumpri-la.Mas eu ainda vou fazer isto em seu favor: você só me verá daqui a oito dias. Até a volta.

E bem rápido chegou finalmente o dia. O coitado do compadre andava já certo de que não escaparia. No entanto, a sua mulher teve uma ideia que logo decidiram pôr em prática. Na casa deles, morava um negro velho que fazia os serviços de cozinha. Fizeram o negro vestir as roupas do seu senhor e, em seguida, mandaram-no para fora. Enquanto isso, o compadre da Morte pintou de preto o rosto, para se parecer com o velho serviçal. Na noite fatal, a Morte veio como o combinado. E a mulher foi logo dizendo para a comadre Morte:

- Ah, comadre. Meu marido não contava mais com a sua vinda. E foi à cidade tratar de negócios. Eu acho que ele vai demorar e muito.

A Morte, ao ouvir isso, ficou angustiada e disse para a mulher:

- Comadre, eu nunca imaginei que meu compadre viesse um dia a fazer essa descortesia para comigo. Mas eu vou ter que levar outra pessoa. Quem é que está lá nos fundos da casa?

Naquele momento, a mulher se alarmou. Mas, dominando a emoção, ela respondeu, então, de modo calmo:

- Aqui em casa, comadre, se acha somente um negro velho, que está lá na cozinha, acabando de preparar o jantar. Em todo o caso, sente-se, comadre! Descanse um bocado. Espere meu marido voltar.

- Não, não. Eu não posso demorar. Eu tenho ainda que fazer hoje uma grande caminhada. Nesse caso, deixe-me ver… Decidi: vou levar o negro velho.

Encaminhou-se a Morte pela casa a dentro, em direção à cozinha. Lá, encontrou aquele homem ocupado no trabalho da cozinha. E se voltando para a comadre, conclui:

- Pois bem, comadre, já que o compadre não vem, eu vou levar, no lugar dele, esse negro velho.

Antes que a mulher pudesse proferir qualquer palavra, a Morte estendeu o braço. No instante, o marido caiu ao chão, tornando-se um cadáver.

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