Literatura do Folclore: Um padre e um homem mau - conto

Um padre, enquanto rezava o terço, caminhava por uma estrada. De repente, então, se deparou com um homem jovem, de grande estatura e com olhos muito tristes. Assustado com aquele inesperado aparecimento, o padre parou a reza e perguntou ao homem se poderia fazer algo por ele. Abaixando os olhos, o homem murmurou envergonhado:

- Seu padre, eu sou um criminoso, um ladrão. Eu, na verdade, não acredito em mais nada. Eu perdi até o amor por meus pais e o carinho dos meus amigos. Hoje, eu vivo como quem está afundado na lama. Depois de ter praticado crime após crime, eu tenho até medo do futuro. Não mais sinto sossego em nenhum instante de minha vida.

Após um breve silêncio, o homem levantou a vista para o padre e lhe pediu como uma criança:

- Eu estou vendo que o senhor é um padre. Pois me livre desse sofrimento, dessa angústia, se o senhor puder.

Ao ouvir tudo em silêncio, o padre fitou os olhos daquele homem. Alguns instantes depois, disse-lhe:

- Meu caro amigo, estou com muita sede. Será que existe algum lugar por aqui que tenha água pra se beber?

Surpreso diante da repentina pergunta, o homem respondeu ao padre. O padre, com sorriso confiante, aceitou a ideia do homem. E, logo depois de pouco tempo, se achava dentro do cacimbão, bebendo água. Até que, se vendo satisfeito, gritou alto para o homem:

- Sim, seu padre. Tem um cacimbão logo ali. Mas nele não tem roldana, nem balde. Ah, eu tenho aqui, uma corda. Se o senhor quiser, eu posso amarrar a corda na cintura do senhor e aí o senhor desce no cacimbão. Aí, o senhor, lá dentro, toma a água até num querer mais. E, depois do senhor ficar satisfeito, o senhor me avisa pra eu puxar o senhor pra cima, que eu puxo.

- Pode puxar a corda, meu amigo.

Empregando grande força, O homem deu uma puxada na corda. Mas o que ele sentiu foi que nada do monge subir. Achou muito estranho. Parecia, naquela ocasião, que a corda estava mais pesada do que antes.

Depois de inúteis tentativas para fazer com que o padre subisse, o homem esticou o pescoço pela borda. Na semi-escuridão do interior do cacimbão, qual não foi a sua surpresa. Ele avistou o padre agarrado a uma grande pedra que havia na lateral do cacimbão. Por um momento, ficou mudo de espanto. Mas, em seguida, gritou enfezado:

- Ei, o que o senhor está fazendo aí, seu padre? Pare  com essa coisa boba. Já está escurecendo, ficando noite. Vamos, seu padre, largue essa pedrona aí, pra que eu possa trazer o senhor pra fora do cacimbão.

De lá de dentro, o padre pediu calma ao homem, explicando:

- Eu sei que você é grande e forte, meu amigo. Mas, mesmo com toda essa sua força, você não vai conseguir me puxar se eu ficar assim agarrado a esta pedra. E é isso que acontece com você. Você se considera um criminoso, um ladrão, uma pessoa que não merece o amor e o afeto de ninguém, não é? E se encontra agarrado o tempo todo a isso, não é? Pois desse jeito, mesmo que eu, ou qualquer outra pessoa, queira fazer grande esforço para tirar você dessa ideia, não vai adiantar nada. Tudo só vai depender de você. Somente você vai poder resolver se quer continuar agarrado a essas coisas suas ou se quer se soltar delas. E, assim, se você quiser mudar, vai ser necessário que você também largue essas suas ideias negativas, que estão deixando você dentro dum cacimbão pior do que este aqui.

E o padre largou a pedra, e o homem puxou-o para cima. Depois daquele dia, o homem mudou a sua vida.  

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