Havia chovido à noite. As ruas estavam alagadas, arrastando toda espécie de sujeira. Os carros passavam a alta velocidade, jogando água suja sobre os transeuntes.
O menininho Tonito seguia também pela rua, sem destino. Havia se escapulido do barraco onde morava. Seus pais saíram cedo para o trabalho, quando ele ainda dormia. Os irmãos ficaram lá no barraco, brincando na lama ao redor.
Tonito se deslumbrava com a agitação da cidade. Automóveis, em correria louca. Gente, apressadas em seus afazeres. E lá ia o pequenino no meio da multidão, indiferente às pessoas ao redor. Ele passava em frente a uma pastelaria, olhava para o balcão recheado de doçuras. Tonito só comera, pela manhã, o bocado de pão duro, e bebera um copo de água. O aroma da comida lhe era agradável. Seu estômago lhe doía com fome.
Ainda chovia, mas de mansinho. Uma chuvinha gelada. Mas o Tonito gostava, naquele instante, era também de observar as lojas dos brinquedos. Lá estavam os carros de corrida, o comboio, os bonecos. Era, diante dele, um mundo maravilhoso. Chegava até encostar o seu nariz sujo contra a vitrina. Dentro da loja, ele avistava o grande movimento de pessoas a fazer as compras de Natal. E os carros de corrida, o comboio, os bonecos eram embrulhados em papéis bonitos, para irem fazer a alegria de outros meninos.
Ali, diante da vitrina, Tonito chorou. Mas eis que os seus olhos deram com um menino que, de lá dentro da loja, olhava para ele. Rápido, Tonito desviou seu olhar, envergonhado. Não gostava de que o vissem chorar. E foi se afastando devagar, pensando nos meninos que festejavam o Natal, a comer as guloseimas e a receberem carros de corrida para brincarem. Só ele que nada tinha, além da fome e a ânsia de ser feliz e viver como os outros.
Andando, ia pensando no Natal. Pensava no Menino Jesus, que as pessoas lhe diziam que Ele era amigo das crianças. Mas por que o Menino Jesus do presépio a ele nada lhe dava?
De repente, uma mãozinha lhe tocou no ombro. Voltou-se assustado. Era aquele menino da loja. E lhe entregou um embrulho bonito. A mãe do menino, carregada de embrulhos, fez de conta que nada tinha visto.
Tonico abriu o embrulho. Deslumbrado, viu o carro de corridas, encarnado, brilhante, como os olhos do menino que, lá de longe, acenava para ele. Ficou Tonico sem saber o que fazer. Mas, em seguida, largou-se a correr pela rua, com seu presente como se mostrasse para todo mundo.
Havia parado a chuvinha. O sol tentava romper as nuvens escuras e já lançava o raio de luz brilhante e quente sobre Tonito. E ele, naquele momento, ria, ria feliz, mesmo com o seu rostinho molhado de lágrimas. E corria em direção do seu barraco.