Literatura do Folclore: Quadrinhas - V (19)


Vai-te embora, não te lembres,
quem de mim já vive ausente.
Pra ser amante, querida,
Tu não és quem é gente.


Vejam que grande besteira
nesta minha caminhada:
trabalhei a vida inteira
para hoje não fazer nada.


Venci! Cheguei a subir.                          
Nada. Ninguém me ajudou.
Mas comecei a cair,            
toda gente me puxou.           


Vi teu rasto na areia
e pus-me a considerar...
Que mimo será teu corpo...
Se teu rasto faz sonhar?


Vi um mendigo na rua
por fora a esmola de alguém.
Meu coração faz o mesmo
se quem dá não lhe quer bem.


Voa, voa, passarinho,
se tu já queres voar,
os pezinhos pelo chão,
e as asinhas pelo ar.


Você diz que eu sou pobre,
mas não sou tão pobre assim.
Tenho minha querida mãezinha
que é um tesouro para mim.


Você diz que me quer bem,
eu também estou te querendo.
Um bem se paga com outro,
nada fico te devendo.


Você me mandou cantar,
pensando que eu não sabia,
pois eu sou que nem cigarra,
canto sempre todo dia.


Você ontem me falou
que não anda nem passeia.
Como é que hoje, cedinho,
eu vi seu rastro na areia?


Você me chamou de feio,
sou feio, mas sou dengoso.
Também o tempero é feio,
mas faz o prato gostoso.


Vossos cabelos na testa
é o que vos dá tanta graça;
parecem meadas de oiro
aonde o sol se embaraça.


Vou abrir teu coração
com uma chave de marfim
dentro quero encontrar um amor
que nunca mais tenha fim.


Vou escrever uma carta
com a pena do quero-quero,
pra te mandar dizer
que não te ligo nem te quero.


Vou esperar a mamãe
e vou lhe falar
que você é gente fina
e pra sempre vou te amar.


Vou jogar meu lenço branco
pra ver onde ele cai:
ai que moço mais bonito
pra ser genro do meu pai.


Vou levando o meu rebanho
atrás de um pasto seguro,
livre de gavião no céu,
livre de onça no escuro.


Vou plantar um alecrim
na linha de Deus, amém.
Se esse alecrim pegar,
nosso amor pega também.


Vou te dar muitos beijinhos
e um abraço sem fim.
Uma joia preciosa,
mamãe, você é para mim. 

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